Esboço de TCC - quem dera!
02:50 | Author: Baile Átha Cliath
Nesses dias de ócio que tive em janeiro, incluindo meu subaproveitamento no escritório onde comecei a trabalhar, comecei a compilar textos que eu tinha escrito a fim de montar uma linha de raciocínio suficientemente persuasiva. Estou na reta final da leitura do livro do Naredo onde tenho encontrado inspiração de sobra pra falar sobre temas tão importantes como sustentabilidade, economia, sistema econômico e etc. É uma pena que não existam muitos autores tão revolucionários como ele ou que minha ignorância me impeça de conhecer mais referências, de qualquer maneira, segue abaixo um texto que acho bastante interessante de autoria própria. Bebi muito na fonte do Naredo, o que pode deixar o texto bastante parcial, mas definitivamente ele não foi a única fonte e acho que estou no caminho para encontrar um meio termo saudável sobre o tema.


As palavras crescimento e desenvolvimento são comum e propositalmente confundidas. O
crescimento é uma medida que leva em consideração apenas a variação percentual do PIB/
faturamento de um país/empresa de um período a outro anterior – geralmente analisado
anualmente. O PIB/faturamento é a soma das riquezas produzidas por um país/empresa
em um determinado período de tempo. O desenvolvimento, por outro lado, é um conceito
muito amplo e complexo. Leva em conta fatores sociais, por exemplo. Um país pode ter
crescimento real em termos de PIB de um ano para outro e apresentar um menor grau de
desenvolvimento, por exemplo. Isso poderia acontecer no caso de uma piora na distribuição
da riqueza, em que poucos teriam acesso a esse maior volume de riqueza e grande maioria
ficaria condenada a dividir migalhas cada vez menores. Fazendo uma analogia ao caso da
empresa, considerando o faturamento constante desta ao longo de alguns anos, neste período
de tempo poderia ocorrer uma melhor produtividade oriunda de políticas de coesão e sinergia
do grupo, ou uma melhora nas condições de trabalho através da instalação de um ventilador
de teto/cadeiras mais confortáveis e assim por diante. Não significando um aumento no
faturamento uma melhora nas condições de trabalho. A cultura brasileira é diversa por
natureza. Temos todas as cores, odores e dores possíveis representadas na nossa sociedade.
Mas porque insistimos em sermos referência no quesito diversidade socioeconômica? Temos
desde o mais miserável até o mais rico, sendo o caminho entre estes separado por uma
parca classe média. Delfin Neto, ex-ministro da fazenda do Brasil é um dos responsáveis por
este desastre. Quando, na década de 70, tivemos um grande aumento na riqueza do país
(com taxas superiores a de países como Japão, por exemplo) ele propôs a idéia de que é
preciso “fazer o bolo crescer para depois dividir”. O bolo cresceu, hoje em dia é o sexto maior
bolo do mundo, mas a promessa da divisão ficou esquecida.

É recorrente e sistemática a idéia de que o crescimento é necessário – isso é manifestado
insistentemente pelos nossos representantes como a presidente da república, mas será que
sendo a sexta maior economia do mundo precisamos nos preocupar tanto com esse fator?

Na declaração da presidente Dilma Rousseff feita na primeira quinzena do mês de setembro
em São Paulo: “A melhor forma de resistir à crise é não ficar de braços cruzados, não nos
atemorizar, mas continuar consumindo, produzindo, investindo em infra-estrutura, plantando,
colhendo e assegurando às nossas indústrias o seu componente nacional”. Ou seja, a noção
de desenvolvimento está intimamente relacionada com a idéia de consumo. Essa conclusão é
sustentada pela declaração de Victor Lebow (1955):

“nossa economia tremendamente produtiva exige que
façamos do consumo nosso modo de vida, que convertamos
a compra e uso de produtos em rituais, que busquemos no
consumo a satisfação espiritual e do ego”.


Que tal se optarmos pelo desenvolvimento e deixarmos de lado um pouco essa babilônia
que é o crescimento. Uma política de desenvolvimento que refletiu positivamente tanto na
área social quanto econômica foi a distribuição de bolsas pelo governo federal como no Bolsa
Família. Essa política colocou comida na mesa de pessoas que passavam fome e as incluiu
no mundo do consumo, ainda que de maneira precária. Os reflexos foram a criação de uma

demanda interna que atenuou os efeitos da crise financeira internacional – com a crise, houve
uma diminuição nas exportações para muitos países, que foi parcialmente compensada por
este novo mercado de consumidores. Seria então a resposta para os problemas o incentivo
ao consumo? Sim, pelo menos é isso que a mídia e nossos representantes nos comunicam
todos os dias através de declarações e ações como a redução no IPI para automóveis, redução
da taxa básica de juros entre outras medidas. Seguindo esta lógica, podemos relacionar o
crescimento com a expansão do consumo que, por sua vez, supõe um aumento de produção
– que geraria mais empregos, giro de capital e etc. Parece que esta teoria está redondinha,
formulada para o sistema capitalista que vivemos. O sucesso deste sistema consistiria no
constante crescimento dessa geração de riqueza, se todos os países do mundo crescessem
10% ao ano pelos próximos 40 anos, provavelmente os partidos de esquerda e correntes
mais sociais seriam praticamente extinguidas por falta de argumento ante o grande êxito do
capitalismo.

A seqüência de acontecimentos e conseqüências oriundas de um aumento no nível
de consumo de uma determinada população fazem parte de um conjunto de conhecimentos
amplamente difundidos na teoria econômica. Esta teoria está amparada por modelos que se
utilizam de uma simulação de ocorrência ideal, com todas as demais variáveis constantes, para
explicar determinado padrão de resposta a um estímulo – Ceteris Paribus.
Do ponto de vista de um consumidor, o aumento de sua própria demanda (leia-se
consumo), representa um aumento no seu bem estar. No caso da compra de um automóvel,
por exemplo, o indivíduo pode começar a ir ao trabalho de carro sempre que estiver
chovendo, ou fazendo muito frio, calor entre outras condições adversas. Da mesma forma,
uma valorização cambial da moeda local de um determinado país, em geral é entendida como
um evento negativo do ponto de vista econômico, na medida em que a produção nacional
perde competitividade de preço a nível internacional, gerando desemprego e piora no bem
estar geral da sociedade. No entanto, dependendo do ponto de vista, um evento desta
ordem pode representar geração de bem estar para indivíduos ou determinados grupos de
indivíduos: Com o preço de produtos importados mais em conta, há quem possa comprar
máquinas, contratar serviços, comprar livros e uma série de outros bens/serviços do exterior e,
dependendo da aplicação destinada a este recurso, gerar retornos proporcionalmente maiores
para a comunidade local no longo prazo – uma máquina com tecnologia menos poluente,
um serviço de consultoria para melhorar a gestão, um livro que traz um maior conhecimento
sobre um determinado assunto culminando em uma maior produtividade e etc.
Do ponto de vista do produtor, um aumento no nível médio de demanda representa:
uma maior produção, diminuição de custos por unidade, eventual aumento de margens,
maior necessidade de mão de obra, maiores perspectivas de investimento e etc. O mais
interessante é constatar o efeito deste aumento de nível de consumo para o setor público.
Neste caso, há uma diminuição na prestação de serviços sociais (como seguro desemprego,
bolsas de ações positivas e outros), maior arrecadação com INSS, maior arrecadação com
impostos que incidem sobre o consumo (como o ICMS), maior arrecadação nos impostos sobre
o faturamento das empresas (IRPJ), maior arrecadação nos impostos sobre a renda dos novos
trabalhadores (IRPF), menores taxas de desemprego, maior nível de estabilidade social, criação
de cenário propício ao investimento (convertendo parte do capital especulativo em capital
produtivo) entre outros.

A questão que fica é a seguinte, é possível que todos os países do mundo cresçam
desta maneira indefinidamente? Não. Vivemos em um mundo com recursos de natureza
limitada, como atuar então em um sistema que supõe o crescimento e o uso infinito destes
recursos? Esta foi a grande pergunta introduzida pelo Informe de Meadows, elaborado pelo
MIT (Massachusetts Institute of Technology) com grande influencia de Donella Meadows e
encomendado pelo Clube de Roma. O informe, publicado em 1972 e intitulado “Os limites do
crescimento”, foi um dos primeiros documentos a tratar da questão ambiental e abordava
justamente da necessidade de troca de paradigma econômico a fim de evitar uma situação
de saturamento da utilização dos recursos terrestres. Uma vez, logo após a independência da
India, um jornalista perguntou a Ghandi se o novo país pretendia alcançar o nível de vida da
antiga matriz. Ghandi respondeu: “Se foi necessário para a Inglaterra que explorasse 40% da
terra para conseguir chegar neste padrão, quantos planetas seriam necessários para a India?”

Para explicar este fenômeno, o projeto “The Story of Stuff”¹¹ faz uma abordagem
diferente. Afirma que vivemos em um mundo onde a produção tem uma lógica linear
(diferente dos demais ciclos da natureza, que são circulares), onde a ordem de acontecimentos
é: Extração de matéria prima, processamento, distribuição, consumo e descarte. Ou seja,
os recursos não voltam ao lugar de onde foram retirados nas mesmas condições nem são
reciclados.

A mensagem principal é a mesma, não podemos viver com um sistema de produção
linear em um mundo com recursos finitos. Os EUA representam mais ou menos 5% da
população mundial e consomem aproximadamente 30% dos recursos.

A proposta do projeto é desenhar um sistema de produção circular, onde os recursos
fossem reutilizados ou devolvidos para a natureza em seu estado original.

Tendo em conta as considerações feitas acima, estão nossos governos atuando de
forma a garantir nossa perpetuação de maneira sustentável no mundo? Não. A resposta é
curta. Os interesses do capital se sobrepõe aos interesses comuns da sociedade. O governo é
instrumento de manutenção do Status Quo utilizado pelo capital. Infelizmente o que motiva
a eleição dos nossos líderes é a promessa por condições de vida mais ricas e não as causas
ambientais.

O sistema no qual vivemos é linear, significa que existem as seguintes etapas: Extração,
produção, distribuição, consumo e descarte. Nossa economia assim funciona. Mas através
desta e outras evidências, verificamos um grande distanciamento entre e economia e a
ecologia. Todas as etapas da natureza são cíclicas, tudo de uma forma ou de outra retorna
a um estágio inicial, como a chuva, as estações, as eras e etc. Este distanciamento entre
economia e ecologia começou junto com a idéia de produção. Antes da idade média, o valor
das coisas era diretamente proporcional a terra, a natureza. Um terreno, por exemplo, valia
um kilo de ouro. Caso uma pessoa quisesse fazer a compra de um terreno (de determinadas
proporções) necessitava dar em troca este kilo de ouro, por exemplo. Com a idéia de
produção e de valor agregado, algumas pessoas começaram a introduzir o seu trabalho em um
determinado capital/matéria prima para que este valesse mais. Um joalheiro, por exemplo,
poderia usar este kilo de ouro para fazer 100 anéis. Com o valor agregado aos anéis, cada um

deles, passou a valer este mesmo terreno que valia 1 kilo de ouro, ou seja, houve criação de
valor, de riqueza. Esta primeira etapa de distanciamento entre economia e ecologia não gerou
um impacto muito grande em termos ambientais porque a demanda, nos tempos da idade
média, era proporcional a necessidade das pessoas e não ao consumismo. Ou seja, um cidadão
normal, usava um par de calças até que estes ficassem inutilizáveis. Só então encomendaria
um novo par junto a um alfaiate. E assim por diante com a maioria das coisas que necessitava.
A revolução industrial que gerou a necessidade das pessoas consumirem e não ao contrário.
Quer dizer que não havia uma demanda latente reprimida das pessoas que foi solucionada
pelo avanço tecnológico, mas sim, após a revolução industrial houve a criação de um mercado
consumidor para dar vazão aos bens gerados. Será que somos mais felizes agora com 10 pares
de calça do que quando tínhamos 1?

A finalidade última do estado, segundo Aristóteles, é alcançar a felicidade humana.
Nesta perspectiva, caberia ao estado oferecer aos seus cidadãos o bem e as condições
necessárias para que isso fosse possível. A idéia de que esta meta possa ser alcançada com o
desenvolvimento econômico é aceita, e os governos em geral utilizam este instrumento para
lograr mais estabilidade social e em última análise, a felicidade.

No entanto, sucesso econômico nem sempre significa felicidade de uma determinada
população. É conhecida, por exemplo, a posição de liderança nos rankings² de suicídio
por parte de países escandinavos como Suécia e Finlândia, bem como países com alto
nível de desenvolvimento como Japão e Coréia do Sul. Outro ranking que se mostraria
contraditório, seguindo este lógica, seria o ranking da felicidade³. Muito embora existam
países com alto grau de desenvolvimento encabeçando a lista, existe a presença de países em
desenvolvimento como Brasil, Costa Rica, México e Turcomenistão que estão entre os vinte
primeiros.

Sendo assim, ao estado não se reserva apenas a função de prover a população de
educação, saúde, saneamento básico, segurança e etc. Mas agir e regular de forma ativa a
economia promovendo, no conjunto destas duas dimensões, o bem estar dos cidadãos –
felicidade.
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