Na memória aquela lembrança desfocada, como aquela chama desprotegida que, trêmula, tenta ficar acesa no meio de um crepúsculo. Enxurrada de experiências que vai diluindo os antigos hábitos. Ainda há uma chama. Aquilo que é socialmente tido como rotina, uma coisa ruim, vai perdendo o seu sentido original na medida que percebo que a vida consegue se adaptar a uma rotina e uma rotina pode ser uma vida. Hão de existir os que não criam raízes, os que a nada se apegam. Mas já começo a saber o tamanho da minha força, sinal de vida adulta. Talvez não mais o adolescente que pode tudo contra todos. Ainda há uma chama. Vejo aquele tempo em que uma quinta-feira era uma quinta-feira, uma sexta era uma sexta, e cada um desses dias tinha um significado cíclico muito intenso. Apesar de tudo, no meio das intrigantes incertezas, consigo montar os pedaços de um quebra-cabeças, dar uma baforada e uma polida, e afirmar algumas suspeitas que eu tinha. A ausência de chão vai minando, aos poucos, a cabeça dos que se aventuram além dos horizontes. É que nem tentar ver um pôr-do-sol de cabo a rabo. O processo é lento e sempre acabamos achando alguma coisa pra se distrair em seu curso, mas, repentinamente, que nem fogos de artifício estourando abruptamente para nos assustar e se desmanchando com graça como para que nos confortar, dou-me conta do significado da palavra saudade. Ainda há uma chama.
4 comentários:
Pô que bonito isso ai, pode ter certeza que eu me emocionei, é engraçado e contraditório estar torcendo pela volta e ao mesmo tempo pela aventura de quem partiu........
beijão
Grande, Cau, amigo!!!. Lindo post, muito bonito.
Me identifico!
Tu faz parte da minha saudade...
Beijos
Puxa Cauê,
Que coisa linda!
Acho que quando voltares tens futuro como escritor, sério!
bjo
Claudia - La mama do André